sábado, 25 de setembro de 2010

O Comboio

Certo dia estava eu em viagem de comboio com destino a essa grande cidade que é a do Porto.

Quando dou por mim estou de conversa com uma senhora que aparentava ter os seus 70 anos. Bem apresentada, com um ar muito juvenal e de imensa vivacidade. Ia eu, nessa tarde, conhecer alguns dos meu ídolos televisivos daquela altura.

O seu nome nunca o soube. Sem grandes contemplações, ela sentiu confiança para me contar alguns episódios da sua vida, que de imediato percebi, era cheia de situações caricatas sinónimo de quem usufruiu daquilo que, no seu entendimento, teria que usufruir. Contou da sua primeira bebedeira, das festas e romarias que, juntamente com as suas amigas, participavam com intuito de se divertirem.

Meia dúzia de risadas. Conversa puxa conversa. Perguntou-me se tinha irmãos, respondendo eu de imediato que sim. Reparei que a sua alegria nos contos baixava, e perdia ênfase nas suas histórias quando tinha de se referir aos seus irmãos. Não percebi, mas não deixei de dar atenção aos mil e um episódios caricatos que aquela simpática senhora me contava. Até que, a meio de uma história, me pergunta, com um brilho lacrimejante no olhar: "Amas os teus pais?". Respondi, com um enorme sorriso:" Sim, mais que tudo na vida...".

Alguns minutos de silencio se seguiram.

Entretanto, e já chegados a S. Bento, essa simpática senhora, olha nos meus olhos, e dispara com o comentário: "Benditos os filhos que olham os seus pais como se de deuses se tratassem. Benditos os pais que tratam os seus filhos sem esperarem nada em troca."

Virou costas. Sem se despedir foi-se embora plena avenida dos Aliados acima. Nunca mais vi essa simpática senhora.

No dia em que iria conhecer as pessoas que marcavam a minha vida, acabei por conhecer a pessoa que mais a marcou.

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